‘Os cães ladram, mas a caravela continua navegando.’ Como bom português, Abel Ferreira deve conhecer o ditado da Terrinha sempre dito quando se superam momentos de adversidade ou de desconfiança. E certamente o técnico, no seu mais íntimo interior, deve ter repetido à exaustão a máxima nos vestiários do Allianz Parque após a vitória por 2 a 1 sobre o rival Corinthians, na última quinta-feira (17), resultado que manteve o Palmeiras invicto e selou a melhor campanha geral na fase de classificação (como se fosse possível alguém ultrapassá-lo por conta própria) do Campeonato Paulista.
Abel sempre tem um plano, senhores. E isso deixou de ser papo de botequim palmeirense nesta noite em que mais uma vez o português mostrou ser um dos técnicos mais antenados com a Sociedade Esportiva Palmeiras, seus torcedores, suas expectativas e, acima de tudo, suas ambições.
Desde fevereiro, não há folga para Abel. Primeiro o Mundial de Clubes. Em seguida a Recopa Sul-Americana. E no meio disso tudo um Paulistão que, se foi relegado a segundo plano pela própria torcida, previa uma traiçoeira rodada tripla de duelos com os maiores rivais.
Pois nada parece abalar o homem ‘que sabe de onde veio e do que é capaz’, como gosta de frisar nas entrevistas coletivas, único reduto onde o homem idolatrado naquele quarteirão da zona oeste paulistana fala ao mundo sobre o que passa pela sua cabeça. Uma trincheira cavada em meio às críticas de comentaristas publicamente torcedores de outros time, que em pouco tempo viraram ataques pessoais. Ou vejamos caro leitor, qual seria sua posição ao ter a mãe ofendida na TV? Ou ter o seu caráter questionado em uma rádio?
No meio do mundo feio e agressivo que se revelou a Abel, ser chamado de retranqueiro foi o menor dos males. Ou definir um jogo em nove minutos como foi contra o São Paulo em um Morumbi lotado não é mérito? Usar um Allianz lotado para rodar o elenco e, depois de abrir o placar, dar o jogo para um adversário muito pior e frágil, como o Santos, não é uma tática?
Não era o suficiente para quem só tinha tomado um gol no Estadual onde parece não ter adversários à altura? Pois bem, veio o Corinthians. Grande mais estruturado, técnico com a mesma nacionalidade, jogadores de nome… E o Palmeiras se armou pela terceira vez seguida de forma diferente. Scarpa voltou ao time, voltou a escalação do Mundial, e o time fez um primeiro tempo perfeito. Tome Timão, fique com a posse de bola, que Abel prefere esquematizar os ataques com Dudu e Rony, com o iluminado Raphael Veiga encontrando os dois sempre livres. Quem se importa se o Palmeiras não faz questão de ter a bola nos pés? Tomou um gol em um pênalti? O segundo tento veio em menos de dez minutos com Danilo… Danilo, o carregador de piano do time.
É preciso enxergar Abel além das quatro linhas, ver suas capacidades em passar para cada jogador uma função tática específica. E a orquestra tocar sem ruídos dentro das quatro linhas, seja qual for a partitura. Para uma torcida que aprendeu a amar um gaúcho que ganhou uma Libertadores comemorando derrota por 1 a 0 fora de casa, idolatrar um que vê o time jogo a jogo, como um camaleão, a se adaptar as condições que lhe são oferecidas, parece muito mais fácil. Ah e a Libertadores? Ele ganhou duas, uma a mais que o gaúcho…
LANCE!