PEQUIM – Cientistas vêm analisando um caso na China de que o período de incubação do novo coronavírus deve ser maior do que os 14 dias que se acreditava até o momento, despertando dúvidas quanto aos atuais critérios de quarentena, em meio a esforços cada vez mais prementes para conter a propagação da epidemia da Ásia Oriental para o mundo.
Coreia do Sul e Japão reportaram um grande aumento de casos no sábado, ao passo que, na China, mais 97 pessoas morreram, e uma quinta pessoa que contraiu o vírus morreu no Irã. E no sábado também as autoridades italianas informaram que o país registrou um aumento repentino de casos, com 50 pessoas infectadas nos últimos dois dias – o maior surto da doença na Europa.
Ao mesmo tempo, cientistas na China afirmaram existir indicações de que o vírus pode ser transmitido através da urina. Uma equipe de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) deveria chegar no sábado a Wuhan, epicentro da epidemia.
O diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, enfatizou na sexta-feira a urgência de se conter a disseminação do coronavírus depois que casos foram reportados no Irã e no Líbano.
“Embora o tempo durante o qual temos chances esteja diminuindo para conter a epidemia ainda temos possibilidade de refreá-lo”, disse ele a jornalistas em Genebra. Se desperdiçarmos a oportunidade, então teremos um grave problema em mãos”.
O líder chinês Xi Jinping, que não visitou Wuhan desde que a epidemia eclodiu, afirmou que a situação na cidade e na província de Hubei “continua sombria e complexa”, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua.
“O ponto de inflexão da epidemia a nível nacional ainda não ocorreu” diz a notícia, veiculada depois de uma reunião de líderes do Partido Comunista.
A Comissão Nacional de Saúde da China informou no sábado que 397 novos casos de coronavírus foram diagnosticados na sexta-feira, elevando o total de enfermos para mais de 76 mil; a taxa de infecção fora de Hubei parece ter diminuído consideravelmente, embora houvesse muita confusão no tocante às estatísticas esta semana, uma vez que as autoridades por várias vezes mudaram os critérios para confirmação dos casos.
Entre os novos infectados estava um homem de 70 anos, em Hubei, que foi testado positivo para a doença depois de 27 dias em isolamento, ao passo que outro indivíduo na província de Jiangxi também testou positivo depois de 14 dias de quarentena centralizada e cinco dias de isolamento em casa. Na quinta-feira as autoridades informaram que um homem em Hubei havia contraído o coronavírus depois de um período de incubação de 38 dias sem apresentar nenhum sintoma.
Os Estados Unidos também estão às voltas com as consequências domésticas das suas respostas ao vírus. A cidade de Costa Mesa, na Califórnia, processou o governo federal pelo seu plano de transferir pacientes em quarentena do coronavírus da Travis Air Force Base, perto de Sacramento, para o Fairview Development Center. Segundo a cidade, a área em questão está cercada de bairros residenciais e manter os pacientes com uma doença extremamente contagiosa tão próximos implica um risco para a saúde pública.
Um juiz federal atendeu ao pedido do município na sexta-feira e bloqueou temporariamente a transferência dos 50 pacientes. A ordem restritiva proíbe as autoridades federais e estaduais de transportarem qualquer pessoa infectada com o coronavírus ou expostas à doença para Costa Mesa antes de uma audiência marcada para as 14 horas da segunda-feira no tribunal federal de Santa Ana, informou o Los Angeles Times.
Em Seul, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças da Coreia (KCDC), reportou no sábado que 229 novos casos foram detectados, elevando o total para 433, mais do que o dobro no espaço de um dia. A Coreia é assim o país mais afetado pela doença fora da China.
“Fora os casos no navio de cruzeiro Diamond Princess, a Coreia do Sul agora tem o maior número de casos fora da China e estamos trabalhando estreitamente com o governo para compreender totalmente a dinâmica de transmissão do vírus que levou a este aumento”, afirmou o diretor geral da OMS.
Muitos desses novos casos foram ligados a clusters existentes em uma igreja na cidade de Daegu, ao sul do país, e um hospital da localidade vizinha de Cheongdo, segundo o centro de prevenção e controle de doenças da Coreia.
O governo sul-coreano designou Daegu e a província ao norte de Gyeongsang “zonas de cuidados especiais”, onde os esforços para conter a doença e de suporte serão concentrados.
Mais da metade dos casos verificados na Coreia no Sul tem relação com a filial em Daegu da Igreja Shincheonji. Desde que os membros da igreja assistiram a um funeral em um hospital na vizinha Cheongdo Daenam, 111 casos de coronavírus foram reportados ali, incluindo dois pacientes que morreram em decorrência do vírus.
A infecção em massa no hospital está concentrada na sua ala psiquiátrica, onde um ambiente confinado deve ter agravado a transmissão do vírus, afirmou Jung Eun-Kyeong, diretor do KCDC.
Um homem de cerca de 40 anos foi encontrado morto em sua casa na cidade de Gyeongiu, a leste de Daegu, depois de contrair o vírus. Ele é a terceira pessoa a morrer por causa do coronavírus na Coreia do Sul.
No Japão houve também um aumento do número de casos, que subiu para 121, mais do que triplicando em uma semana. Nesse número não estão incluídas as pessoas a bordo do navio Diamond Express que contraíram o vírus.
Um dos casos mais recentes foi o de um professor em torno de 60 anos de idade de uma escola secundária pública a leste de Tóquio, que sentiu náuseas quando dava aula. O prefeito de Chiba anunciou que a escola ficará fechada até quarta-feira, informou a NHK.
O professor não viajou para o exterior nas últimas duas semanas e não há registros de que tenha tido contato com alguma pessoa infectada, ressaltando o fato de que o vírus agora vem se propagando de maneira invisível pelo país, afirmam especialistas.
*TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO