Dois empresários protagonizaram uma história de honestidade, na região noroeste do Paraná. Alvidor Alves de Almeida, de 69 anos, derrubou na PR-323uma mala de sua moto que tinha quase R$ 8 mil em dinheiro dentro, e só percebeu depois do incidente. Já Carlos Antônio Nascimento Paraná, de 59 anos, viu a mala na estrada, a recolheu e conseguiu achar o dono para devolvê-la com toda a quantia intacta.
A situação ocorreu na sexta-feira (20) em uma rodovia que passa pelas regiões norte e noroeste do estado. Alvidor mora em Londrina e pegou a estrada rumo a Cafezal, para visitar a irmã no fim de semana. Ele tinha três malas em sua motocicleta e derrubou uma delas no asfalto sem perceber. No interior havia alguns pertences pessoais e R$ 7.800 em dinheiro.
Ele só deu falta do objeto cerca de 20 km à frente, no trevo de Itapejara, quando um rapaz emparelhou com ele na estrada e avisou da mala derrubada. O motociclista deu a volta e começou a procurar pelo objeto na estrada, mas não o encontrou. Isso porque, momentos antes, o Carlos, que mora em Cianorte, havia o recolhido.
“Eu vi que alguns carros estavam desviando. Decidi parar para tirar ela do meio da estrada. Aí eu e minha esposa tivemos receio de que algum motociclista tivesse se acidentado por ali”, contou ele.
Carlos e a esposa começaram a olhar ao redor da rodovia, dos dois lados da estrada, 100 metros antes e 100 metros depois, mas não encontraram ninguém ferido. Decidiram recolher a mala na caçamba da caminhonete. Depois de alguns minutos andando, veio um “clique”: mas e se tivesse alguma coisa ilegal na mala?
Eles resolveram olhar para conferir se não havia drogas, armas ou algum contrabando. Só encontraram roupas, objetos pessoais, o dinheiro e um cartão de visitas de uma empresa de escapamentos e guincho, em Londrina.
“Deixa quieto”
Assim que Carlos recolheu a mala e seguiu viagem, Alvidor já voltava na estrada procurando pelo objeto. Mas os dois não se cruzaram. Se isso aconteceu, não se reconheceram. Alvidor disse que voltou 30 km, até que desistiu e continuou a viagem até a casa da irmã, em Cafezal. Após o fim de semana agradável com a família, voltou para casa, em Londrina.
O que Alvidor não esperava mais era receber um telefonema na segunda-feira, por volta das 9h. Era Carlos, que depois do alô, perguntou: “O senhor tem uma moto?”. Foi quando o sortudo entendeu do que se tratava e perguntou: “Você achou minha mala, né?”. Assim, os dois começaram a esclarecer a história. Carlos pediu que o desconhecido relatasse tudo o que tinha dentro e Alvidor descreveu.
“Foi por acaso que o cartão ficou ali. Ele estava dentro do bolso de uma roupa minha. Eu tirei do bolso mas deixei ali na mala mesmo, nem era pra estar ali”, disse o motociclista.
Eles marcaram de se encontrar. Como na mala também havia um tíquete de abastecimento em Maringá, que ficava no meio do trajeto que Alvidor fez, Carlos disse que encontraria o dono do objeto no posto em que ele abasteceu a moto.
Naquela conversa, no pátio do posto, surgiu uma amizade. “O Alvidor me liga todo dia agradecendo. E já combinamos de almoçarmos juntos qualquer hora”, disse o empresário.
Dinheiro não era importante
Mas o que o leitor deve estar se perguntando, era o que Alvidor iria fazer com tanto dinheiro? Ele disse ao RIC Mais que tinha a intenção de fazer compras, mas que não era por causa do dinheiro que estava preocupado. Ele estava sentido pela perda da mala que, para ele, tem muito mais valor (sentimental) do que o dinheiro. E não foi só com a mala que o motociclista se preocupou:
“Ele nem perguntou do dinheiro que estava na mala. A primeira coisa que ele me falou foi: ‘você achou o pão na mala?‘ Era uma cuca que ele comprou em Londrina, pra levar pra irmã dele em Cafezal. Estava mais preocupado com isto do que com a grana”, divertiu-se Carlos, que não quis abrir, nem experimentar a iguaria, e preferiu devolver do jeito que estava, embalada e intocada.
Estilo
Alvidor explicou a reportagem que tinha muito carinho pela mala perdida porque todo motoqueiro tem o seu estilo. E aquelas malas representavam o estilo de sua moto e o jogo ia ficar incompleto, pois é difícil depois conseguir uma só para recompor o kit, que querendo ou não, custa caro.
“Pra mim parecia uma aliança arrancada do dedo. As malas eram um kit de viagem, que eu sempre viajo com elas. Ter uma a menos não fazia sentido”, lamentou ele.
O motociclista chegou a oferecer recompensa, mas Carlos recusou. “Se não tivesse o cartão, eu ia achar ele de qualquer jeito, porque dentro da bolsa tinha o tíquete do posto de combustíveis que ele abasteceu em Maringá e os tíquetes de pedágio que ele passou. Eu ia pedir pra ver as câmeras, tentar achar a placa da moto e ia dar um jeito de localizar, nem que tivesse que divulgar a perda da mala na internet”, disse ele, garantindo ainda que, se não encontrasse o dono, que doaria o dinheiro para alguma entidade assistencial.
Já o pão que tinha na mala, não serviu de presente a ninguém. Porém, Alvidor já garantiu que vai mandar fazer um especial para o novo amigo e que vai entregar presencialmente como agradecimento pela atitude honesta.