A delegada Ana Hass, da Polícia Civil do Paraná, responsável pela investigação do caso em que dois irmãos foram encontrados mortos no apartamento da mãe em Guarapuava, concedeu uma entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (30). Na sede da 14ª Divisão Policial, a delegada revelou detalhes sobre as ocorrência, contou que três pessoas já foram ouvidas e que duas cartas foram encontradas no local do crime.
De acordo com a delegada, as cartas são uma tentativa de justificar o crime. Nos textos a mãe relatou dificuldades para cuidar dos filhos – um menino de 3 anos e uma menina de 10 – e ausência da família.
“Ela redigiu cartas durante o tempo que ela ficou com as crianças no apartamento […] Era direcionado a alguém, então ela ensaiou uma estratégia de defesa, mais uma vez se desculpando e criando estas justificativas, principalmente referente a questão financeira, relatando que o pai da criança não estaria presente, a sua família também”,
Contou Ana, que destacou que o pai pagava uma pensão alimentícia e a suspeita recebia um salário de aproximadamente R$ 3 mil.
Conteúdo das cartas
Segundo a investigação, existe a suspeita do crime ter sido premeditado. A delegada contou que em uma das cartas, a mulher relatou que após conhecer o pai do filho mais novo a vida foi transformada, de uma maneira negativa.
“São cartas longas, são duas cartas, uma de oito páginas e outra de três ou quatro. Elas dizem que até o momento em que ela tinha só a filha a vida dela era boa, apesar do pai da filha ser falecido, ela ainda conseguia, mas depois que ela encontrou o pai do menino, tudo se tornou (palavrão), porque ele era um pai (palavrão). É bastante interessante porque parece que ela tem rancor muito grande do pai do menino”,
contou Ana Hass.
Nos textos, a suspeita também compara a vida com a do pai do garoto. “Fala em cartas que ele (pai do filho) estava namorando, curtindo a vida, enquanto ela estava sozinha, cuidando dos filhos, então era uma vida que ela não queria. Então falando de forma bem direta, ela ‘se livrou’ dos filhos, na tentativa de talvez ter uma nova vida”, revelou a delegada.
Delegada descarta surto
Durante a coletiva, Ana Hass também comentou sobre descartar a possibilidade da mulher ter sofrido um surto no momento em que teria cometido o crime. A delegada esclareceu que a suspeita estava sentada em um sofá no momento em que os policiais chegaram na casa, e que a informação sobre a morte das crianças foi repassada por um advogado que cuida da questão da pensão alimentícia da família.
“Justamente pelo fato dela mesmo ter afirmado que nunca passou por um tratamento e nunca teve nenhum outro tipo de episódio, nós não estamos trabalhando com essa hipótese, de que a suspeita tenha passado por um surto. Até porque toda a dinâmica dos fatos nos leva a crer que isso não aconteceu. Primeiramente ela teria até premeditado este crime e posteriormente, ao passar 15 dias com as crianças, nós entendemos que ela passou esse tempo bolando estratégias de defesa ou bolando formas de se escusar e apresentar as forças policiais”,
completou Ana.
A delegada também informou que nenhum advogado se apresentou na delegacia como parte da defesa da mulher. Uma audiência de custódia foi realizada nesta segunda-feira (29), porém a prisão preventiva de Eliara Paz Nardes que havia sido decretada foi mantida. A suspeita está presa, mas não está em Guarapuava e nem foi transferida para Pitanga. O local onde a mulher se encontra foi mantido em sigilo pela investigação.
O caso
Eliara foi presa neste sábado (27), no apartamento onde morava no Centro de Guarapuava, após ligar para um amigo advogado e contar que tinha matado os dois filhos. O advogado foi quem avisou a polícia, que foi até o local e encontrou as crianças mortas.
À polícia, a suspeita disse que matou o menino de 3 anos no dia 13 de agosto, e que depois assassinou a filha, de 10 anos, no dia 17 de agosto. Ela ainda relatou que pretendia cometer suicídio e justificou que estava cansada de cuidar das crianças. A informação sobre o intervalo entre as mortes ainda será confirmada através de perícia.
Após os assassinatos, a mulher teria deixado os corpos em seu quarto, em cima da cama, cobertos. Ela seguiu residindo no apartamento normalmente por cerca de 14 dias, até avisar o amigo. Quando foram encontrados, os corpos das crianças já estavam em estado de decomposição. A mãe confessou os crimes, foi presa em flagrante pelos homicídios, por ocultação de cadáver e fraude processual.
Os corpos das crianças foram velados e sepultados nesta segunda-feira (29), em Itajaí (SC).
RICMAIS